Emerson Silva: O Inter de Eduardo Coudet e seus ‘quatro volantes’

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*Em parceria com Leonardo Ferreira, analista de desempenho.

No próximo sábado (15), o Inter enfrentará o maior rival no clássico Gre-Nal de número 423. Se comparar com os nomes dos jogadores que atuaram nos últimos duelos, o Colorado terá vários estreantes, inclusive o próprio treinador. E é para o treinador o destaque desta coluna. Muito se falou que a montagem do time de ‘Chacho’ é conservadora e defensiva.

Pessoas da imprensa em geral (não sei se por má fé ou desorientação mesmo) atacam-no de retranqueiro devido aos nomes escolhidos nas preleções dos jogos. Falo de Musto, Lindoso, Edenilson e Patrick (agora Boschilia, em função da lesão sofrida pelo camisa 88). Dentre as justificativas, existe o argumento que no trabalho anterior, com exceção do argentino, os mesmos jogadores armavam um tripé de volantes, característica que o Inter adotou como forma para se proteger e atuar no conhecido futebol reativo.

Entretanto, o esporte é muito mais dinâmico do que a definição de ‘ser volante’ ou ‘ser meia’. Para justificar isso, levanto a seguinte questão: o ex-jogador Paulo César Tinga era volante ou meia no Inter de 2006? Tentando responder essa pergunta, entende-se que o jogador era volante quando precisava ser, mas era meia armador no decorrer da transição ofensiva daquele time. E é exatamente a mesma função que Edenilson e Patrick (agora Boschilia) desempenham no Inter de Eduardo Coudet.

Ao comparar a formação e desempenho tático do Inter vice-campeão da Copa do Brasil de 2019 e do atual, de Eduardo Coudet, percebe-se uma gigante evolução na presença do campo adversário. Nessa semana, circulou nas redes sociais uma análise comparativa entre os dois times, usando imagens da televisão.

  • Na primeira situação, final da Copa do Brasil 2019. Eram 24 minutos do segundo tempo, Inter 1×1 Athletico Paranaense. Neste cenário, o Inter está completamente atrás do meio de campo, com exceção de Guerrero. Este, por outro lado, esteve afastado de Rafael Sobis e no meio de 3 defensores. Isto pode ser verificado aqui, no tweet do repórter Eduardo Deconto, do GloboEsporte.com, relatando o jogo na ocasião.
  • Na segunda situação, o momento do gol do Inter contra La U, no último jogo colorado na Libertadores da América. Muito elogiado pela imprensa nacional responsável pela transmissão daquela partida, o Internacional mostrou-se extremamente ofensivo na marcação imposta sobre o adversário. Foi coroado com gol pela presença intensiva de seus meias sobre os defensores do time rival. Isso pode ser verificado aqui, aos 6 minutos e 15 segundos no vídeo de melhores momentos do primeiro tempo da empresa de direitos de transmissão.

Estes dois jogos exemplificam uma ruptura no estilo de jogar. Em ambas situações, o Inter precisava marcar o gol para cumprir com seus objetivos. Na primeira, estava empurrado em seu campo de defesa (também por méritos do adversário, é verdade) sem conseguir impor qualquer perigo, enquanto no modelo atual o Inter impõe presença no campo de ataque, forçando o erro do time rival.

Entendo que o Inter vem jogando de forma semelhante aos times já conhecidos de Eduardo Coudet. Um exemplo é o Rosario Central de 2016, que eliminou o Grêmio na Libertadores, dando um nó tático em plena Arena. Naquele time, Musto era o volante centralizado que em momentos defensivos ficava entre os zagueiros como líbero. Os meias Cervi (lado esquerdo), Montoya (lado direito) e Lo Celso (central) avançavam em direção ao gol em momentos de ataque e voltavam para compor o meio de campo em situações defensivas.

Realizando um a cópia desta equipe, percebe-se que praticamente nada difere a forma de atuar daquele Rosario Central de 2016 e do Inter de 2020. Claro que se faz ressalvas que podem ser questionadas às qualidades técnicas, entretanto não à forma de jogar. Ao mesmo tempo, certos vícios do estilo reativo ainda estão presentes nas características dos jogadores do Inter e isso só o tempo, a continuação e a repetitividade irão corrigir.

Conforme o colega Leonardo Ferreira, analista de desempenho e responsável pela página @futebolnuecru, “esse time, que muitos da imprensa afirmam ser de quatro volantes, apresenta problemas maiores defensivos e virtudes maiores ofensivas (…)”. Como já comentei aqui, Edenilson e Patrick pisam na área, fazendo funções de meias avançados e Lindoso fica centralizado para proteger a retaguarda em possíveis contra-ataques. Leonardo Ferreira ainda aponta que “(…) os laterais são peças importantíssimas no esquema de Coudet. No Racing, tinham o papel de construção de jogadas e tudo passava por eles. Talvez essa seja a maior dificuldade inicial do Colorado, em função de certas limitações técnicas destes jogadores do Inter na construção de jogadas”.

Musto é um pilar importante nesse jogo. Faz as vezes de Marcelo Díaz ou Nery Dominguez no Racing, tendo o papel de um líbero. Esta função o camisa 5 já executou no Rosario Central de 2016 e, nesse esquema adotado, o volante possui elevada importância para saída de qualidade, pois é ele quem dá o primeiro passe.

O campinho abaixo, resumidamente, apresenta a formação e as movimentações no decorrer dos momentos da partida. As flechas em marrom representam os movimentos de avanço de linhas (time buscando sair para o ataque ou mesmo na marcação de saída de bola, como no caso do gol contra La U). As flechas amarelas representam o momento de defesa extrema quando o adversário chega ao meio do campo e impõe algum possível risco de contra-ataque. Já a posição dos jogadores representa o “estado zero”, aquele neutro, geralmente no início da saída de bola.

Esquema Tático de Eduardo Coudet
Fonte: Emerson Silva e Leonardo Ferreira (@futebolnuecru).

Esse Inter de Eduardo Coudet, portanto, não é nada defensivo, como nominalmente aparenta. É um time veloz (ainda mais com a entrada de Boschilia), que mantém a marcação adversária constantemente sob pressão nas linhas de frente. Caso tome algum contra-ataque, possui dois volantes de retaguarda, sendo que Musto recua até ficar por trás dos dois zagueiros centrais, formando uma defesa com um líbero. Quando o time ataca, geralmente é pelas pontas com a qualidade de Edenilson, Boschilia e o vigor físico dos laterais Rodinei e Moisés. Como opção de banco, possui garotos talentos oriundos da Copa São Paulo, além de jogadores jovens com bagagem, como Marcos Guilherme.

É um time interessante, treinado por um excelente profissional. Em resumo, o torcedor colorado precisa ter paciência, pois os frutos virão ao longo do trabalho. O que este colunista e o colega analista de desempenho garantem é que este time não é nada retranqueiro. Muito pelo contrário, está mais perto de fazer o gol do que tomar.

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